Moda Masculina

Será o fim de Raf Simons na Calvin Klein?

Falta de sintonia entre o que Raf sabe fazer e o que a Calvin Klein de fato precisa

Raf Simons chegou com todo poder na Calvin Klein, mas pelo jeito a relação anda meio desgastada. Desde o final de novembro, alguns artigos publicados em veículos como WWD, The Fashion Law e Business of Fashion têm exposto as dificuldades que Raf Simons e os executivos da Calvin Klein e da PVH, conglomerado que controla a marca, vêm enfrentando. Tudo indica que os dias de Simons na CK estão contados.

O problema parece ser uma falta de sintonia entre o que Raf sabe fazer e o que a Calvin Klein de fato precisa. E isso parece ser um eterno aprendizado para as grandes marcas que contratam estilistas estrelas achando que eles irão sanar todos os seus problemas para todo o sempre. Muitas das mudanças que têm ocorrido na moda global têm uma razão por trás: o sucesso recente da Gucci com a entrada de Alessandro Michele. A Burberry, por exemplo, foi uma das marcas que usou esse exemplo como justificativa para trocar Christopher Bailey por Riccardo Tisci.

A questão é que Simons nunca havia tido uma experiência com o mercado de massa, do qual a CK faz parte. Por sua vez, o foco da Calvin Klein nunca foi high fashion. Assim, ao criar coleções caríssimas e desfiles conceituais, Raf tem mais distanciado do que aproximado a marca de seu principal consumidor.

O CEO da PVH, Emanuel Chirico, disse em um encontro com investidores que estava desapontado com a falta de retorno dos investimentos feitos na Calvin Klein. A empresa também está insatisfeita com o segmento de jeans, que está “muito elevado” e não vendeu como planejado. Para a PVH, os jeans são muito refinados e caros para o consumidor da marca.

O lucro do terceiro trimestre da Calvin Klein caiu para US$ 121 milhões, de US$ 142 milhões no ano anterior, principalmente devido ao aumento nos gastos com criação e marketing, segundo a Reuters. “Reduziremos alguns desses investimentos planejados e, à medida que avançarmos, retomaremos uma abordagem mais comercial”, disse Chirico.

O grupo então traçou um plano para a marca voltar a crescer, o que inclui cortar investimentos nas coleções de passarela, direcionar o budget de marketing para influenciadores e passar uma mensagem mais acessível. E aí começa o descontentamento de Simons, que vê suas ideias e esforços dos últimos três anos colocadas em xeque.

O que também possivelmente agravou a relação foi a chegada de uma nova chefe de marketing, Marie Gulin-Merle, ex-L’Oréal, que Raf achou que poderia ser uma aliada nessa transição – porém, Gulin-Merle não responde a ele e sim direto ao CEO da Calvin Klein. Em pouco tempo, ela assumiu o controle de casting e comunicação e uma das primeiras coisas que fez foi substituir o fotógrafo Willy Vanderperre, antigo colaborador de Simons, por Glen Luchford, já para a próxima campanha de Verão 19. Luchford é um experiente e talentoso fotógrafo de moda, mas ficou especialmente conhecido pelas campanhas que tem feito para a Gucci de Alessandro Michele.

Foco no marketing digital (conheça a agência Mdoisi). Gulin-Merle também direcionou todo o budget de anúncio só para o digital, deixando de fora de sua estratégia as revistas mensais importantes e as publicações conceito que sempre foram parceiras da marca.

Até o perfil no Instagram já não tem mais a linguagem imaginada por Raf Simons. E enquanto a própria CK se afasta desse imaginário, lojas de fast fashion como a Zara vendem camisetas Jaws, inspiradas no desfile de Verão 19.

E ainda, a PVH se mostrou preocupada que a parceria super cara com a Fundação Andy Warhol é muito artsy e esnobe para uma audiência de massa – mesmo se tratando de um dos artistas mais conhecidos de todos os tempos.

Raf tem sentido o impacto não apenas de perder o controle sobre a comunicação, mas também sobre os desfiles. Em setembro, para a coleção de Verão 19, ele havia concebido uma passarela que teria que ser montada fora do HQ da Calvin Klein (onde os desfiles normalmente vêm acontecendo), mas a ideia não foi para frente por causa de restrições no orçamento e ele precisou criar outra cenografia.

Depois desses artigos, boatos começaram a rolar, dizendo que sua demissão ocorreria em breve, mas fontes ouvidas pelas reportagens falaram que ele ainda apresenta o próximo desfile em fevereiro. Vamos aguardar os desdobramentos desta história.

Fábio Monnerat

Provocador digital. Especialista em branding e ativista do feito no Brasil. Consultor de marketing de moda e tendências e um grande entusiasta da moda masculina.

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