Über Entrevista: Ivan Padilla “É possível se vestir bem com uma camiseta hoje”
Ivan Padilla, diretor da Casual Exame, fala sobre o Guia de (não) Estilo da revista, as transformações das tendências e o futuro da moda masculina pós-pandemia. Por Ivan Reis
Über Entrevista: Ivan Padilla diretor da Casual Exame.
Os tempos mudaram, nós mudamos e a moda também. No meio de tantas transformações – passando por uma pandemia nada fácil -, o guarda-roupa masculino incorpora mudanças de grande sentido hoje, deixando a gravata um pouco de lado e aderindo produções mais casuais. Com esse espírito, conversei com Ivan Padilla, editor da Casual Exame, sobre o presente e o futuro da moda masculina, além dos princípios de publicação do Guia de (não) Estilo lançado pela revista recentemente.
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Em tempos de liberdade da moda e do vestir, guias de estilo masculinos foram bem requisitados pelos consumidores. O que motivou a publicação de um Guia de (não) Estilo na Casual Exame?
A gente estava com a ideia de fazer um guia de estilo desde o ano passado. Fui diretor da Vip de 2016 a 2018, quando a revista foi descontinuada por causa da recuperação judicial da Abril. Nós lançamos o guia de estilo por dois anos com patrocínio da Calvin Klein. Era um produto editorial bom e bem rentável, e as pessoas têm muita lembrança boa do Guia de Estilo da Vip; de quando começaram a trabalhar e o primeiro estágio.
A ideia era fazer ou reeditar, dentro da Casual Exame, um guia de estilo. Quando fomos para o mercado, falamos com as marcas e chegamos à conclusão, – também vendo as matérias que estávamos fazendo na revista -, que fazia mais sentido um não guia de estilo. Seria mais coerente com o que vínhamos publicando e com o retorno que tivemos das marcas na hora de apresentar o projeto da publicação. Então, foi uma versão contemporânea do Guia de estilo.
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É possível falar em tendências na moda masculina hoje?
Sempre vai ter tendência, semanas de moda e questões de comportamento. Isso não vai acabar. A moda olhando para o comportamento e o comportamento olhando para a moda, um sistema que se retroalimenta.
Hoje, vemos uma tendência do fim do slim, com peças mais amplas e folgadas, o que já vinha acontecendo de uns anos para cá. Com a pandemia, isso foi acelerado. Tendência sempre vai existir. A questão é o que você faz com ela. Homem é menos suscetível à tendência do que mulher. As variações são menores, menos aparentes e o homem tem mais resistência, principalmente o consumidor brasileiro.
As tendências de fora demoram um tempo para chegarem. Eu lembro do slim, quando todo mundo estava usando na Europa e era difícil de chegar. Hoje, tem uma predominância do slim. Hoje, é ao contrário. Vejo homens falando: “Nossa! Será que consigo usar uma calça folgada agora ou um casacão? Demorei tanto para me acostumar com o slim”.
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A queda do uso da gravata, o uso de sneakers no lugar de sapatos mais formais e blazers de tecidos mais maleáveis fizeram a casualização da moda masculina. Qual a possível causa desse fenômeno?
A casualização já vem de alguns anos, talvez de 10 ou 15 anos. Tem a ver com o comportamento de rua, com música, rap, hip hop, tem uma coisa de comportamento de rua e a moda se alimenta muito disso também.
Então, sim. Vinha vindo essa casualização da moda e a pandemia deu uma acelerada mesmo porque as pessoas estavam em casa, de camiseta, polo, e até sem camisa. A casualização veio de uns anos para cá, muito ligada à música e ao comportamento, e isso foi celebrado pela pandemia.
- Com a pandemia, ambientes de trabalho mais tradicionais, como escritórios de advocacia, não resistiram à formalidade de algumas peças. Você acredita que essa alteração no dress code do escritório veio para ficar?
A moda funciona por ondas. Vejo gente falando que está com saudade de vestir costume, terno, colocar um blazer, assim como mulheres querem voltar a usar salto alto. Acredito que vai ter espaço para tudo.
Nada é permanente na moda. Então, hoje, essas peças folgadas eram usadas nos anos 90 e 2000 e o slim também foi usado nos anos 60. São ondas que vêm, vão e são adaptadas aos dias de hoje, em cores, estampas e com ar contemporâneo.
Acredito que não vai ter isso de nunca mais usar terno ou costume. Não vejo nem as marcas preocupadas com isso. A gravata já vinha tendo um declínio, mas as pessoas usam lenços, por exemplo, ou uma echarpe como adorno. Não é exatamente porque as pessoas não querem se arrumar.
Eu falo, hoje, com grandes alfaiates de São Paulo e ninguém está preocupado com isso. Há muita demanda e com casamentos voltando. Então, não acho que o terno morreu, por exemplo. A gravata está no hospital. O resto, não.
- Para o (não) Guia da Casual Exame, como estilo, moda e elegância se combinam no guarda-roupa masculino?
O que a gente tentou passar no Guia de (não) Estilo é que elegância é uma questão muito individual. É claro que são peças de qualidade, e que você deve ter uma harmonia no que está fazendo, um propósito e entender porque está combinando determinadas peças, mas é muito mais sobre atitude e segurança ao estar bem vestido. Tem muito mais a ver com você, indivíduo, do que com o resto. O homem ainda se pega muito comparando com os outros.
Ninguém quer chamar atenção pela esquisitice e nem ser o cara diferente no trabalho, mas acho que os homens estão ousando um pouquinho mais hoje. A elegância está se tornando algo mais individual do que antes.
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Quais são os caminhos que a moda masculina pode passar no pós-pandemia?
Os tecidos já vinham se destacando. São mais maleáveis, inteligentes, antitérmicos e anti odores. Vemos bastante isso, mesmo na alfaiataria. Isso veio para ficar. A gente vai ter uma procura por tecidos cada vez melhores e vamos ficar cada vez mais exigentes. A casualização fica também.
Vamos ser mais casuais, mas não o tempo todo. A gente vai fazer um híbrido. Espero que a pandemia tenha dado mais segurança na autoestima das pessoas para, na hora de se vestirem, ficarem mais confiantes. Todos ficaram tanto tempo on-line, em salas do Zoom, de camiseta, e de um jeito bem descontraído. Hoje, existem camisetas excelentes, bonitas, que não deformam e nem não ficam manchadas.
A camiseta não é mais aquela peça do fim de semana. Chegam a custar 300, 400 e até 2000 reais em algumas grifes. Mas não é bem pelo preço. É pelo tecido e pela qualidade. São materiais que não mancham nem desbotam. Então, é possível, sim, se vestir bem com uma camiseta hoje.
Sobre Ivan Padilla
Ivan Padilla. Foi editor da revista Vip de 2016 a 2018, quando lançou o guia de estilo com bastante sucesso na redação e no público. Já passou por grandes veículos de comunicação e, hoje, é editor da Casual Exame.
Guia de (não) Estilo 2002 Casual Exame. Além de informações sobre modelagens, tecidos e estilos do guarda-roupa masculino, a publicação traz editoriais com sugestões de uso de peças e entrevistas com personalidades do universo de estilo, como Ricard Stand, CEO da Aramis e Laurent Lecamp, da Montblanc.
Texto do jornalista e nosso colunista: Ivan Reis
Imagens: Reprodução/Exame
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